Quando lançou a ideia da Economia de Comunhão em 1991, italiana Chiara Lubich sequer tinha conhecimento do que eram “negócios de impacto”. Ao observar a “coroa de espinhos” formada pelas favelas que envolviam a cidade de São Paulo, propôs aos empresários e às empresárias do Brasil e do mundo que suas empresas trabalhassem com o objetivo de reduzir a pobreza. Foi uma “inspiração” sensível ao contexto socioeconômico e não propriamente o lançamento de uma nova teoria.
Hoje, quase 30 anos depois, a Economia de Comunhão é um movimento cultural e econômico, de atuação prática e acadêmica, e também parte integrante do ecossistema de negócios de impacto. Nossas empresas são comprometidas com a redução da pobreza a partir do compartilhamento de recursos materiais e imateriais e nessas quase três décadas geramos impacto social positivo não apenas em projetos sociais de nível local e nacional, mas também implementando uma nova cultura de gestão dentro das nossas companhias e junto aos nossos colaboradores. Essa cultura de gestão, na verdade, tem raízes em uma de nova cultura social, que todos os membros da Economia de Comunhão assumem como própria e possui condições de minar as raízes da desigualdade. A pobreza é um fenômeno multidimensional e requer de nós um pensar e um agir complexos. Não basta atuar sobre suas causas. Precisamos modificar os paradigmas que a retroalimentam.

E qual é o diferencial da Economia de Comunhão?

A Economia de Comunhão deseja causar impacto mudando a vida das pessoas. Só assim, acreditamos, mudaremos as empresas, a cultura e o mundo.
Por isso, o conceito de comunhão é tão significativo na cultura de uma empresa EdC. É ela que cria empatia e relacionamentos genuínos entre acionistas, líderes, colaboradores, fornecedores e comunidade e propicia um ambiente de compartilhamento de dons, capacidades, soluções, dificuldades, desafios e fragilidades.
Desse ciclo de comunhão, nasce também a comunhão dos recursos, um composto importante, mas não o único, empregado na superação de situações de vulnerabilidade econômica, do lado de dentro ou de fora da empresa. Propõe-se a substituição de relações assistenciais por relações de reciprocidade. Quem doa e quem recebe tem igual valor.

Conheça os projetos que recebem a comunhão dos recursos da EdC no Brasil

As experiências de comunhão do empresário German Jorge, à frente da Dimaco, empresa argentina de materiais de construção e integrante da Economia de Comunhão, ilustram bem esse ciclo.
A empresa faz a comunhão de recursos com iniciativas de incubação de outras empresas, contribui com os projetos globais da EdC, participa de redes internacionais por empresas mais sustentáveis, como o Pacto Global e se envolve especialmente com a redução da pobreza nas comunidades locais próximas à Dimaco.

Quadra reformada do complexo esportivo no Bairro Mitre


Graças a cultura de comunhão da empresa e dos valores do seu líder, a companhia já investiu em projetos como da Petropack, doando recursos para compra de materiais e pagamento de professores em cursos de capacitação de pedreiros; também contribuiu com recursos materiais para a construção de um complexo comunitário esportivo no bairro Mitre, nas proximidades; colaborou com a construção de uma nova cozinha no Centro Social La Casitta Estrella que oferece oficinas de culinária e costura para aumentar a geração de renda; e apenas para citar mais uma iniciativa, também doou recursos para a construção de um espaço adequado para os produtores de mel da região.
Para justificar as iniciativas, German Jorge é enfático. “O importante para nós não é fazer grandes negócios. O importante é tornar esses negócios grandes o suficiente para melhorar o mundo, ajudar muitas pessoas a serem mais felizes, e também nos tornar mais felizes enquanto fazemos isso”.

E se a empresa não consegue realizar a comunhão de recursos materiais?

Se a comunhão dos recursos é um dos aspectos da Economia de Comunhão, também é verdade que outros três princípios têm igual valor para suas empresas: a cultura e a governança corporativa; a gestão da cadeia de valor e a gestão dos colaboradores. Dois relatos de uma empresa de contabilidade no norte do Brasil ilustram esses demais aspectos.

Equipe da VSM


Ao levar cestas básicas para a família da senhora que faz a limpeza da empresa, a empresária Vânia Trindade, fundadora da VSM Gestão Contábil e Empresarial, em Belém, no Para, se deparou com um contexto social desafiador. Diante do enfrentamento de tamanha pobreza, não há espaço para os sonhos e a vida segue sem grandes planejamentos. Quando chega uma situação inesperada, falta dinheiro para comer no próximo mês, ou no próximo dia.
Foi então que Trindade teve a ideia de chamar alguns dos seus funcionários de funções mais operacionais e pedir para que escrevessem em uma folha de papel algo que gostariam de realizar e, ao lado, quanto, mais ou menos, aquela meta custaria. Uma disse que queria colocar lajotas na casa, um outro queria móveis para o quarto, etc.
“Então fiz a proposta: para cada valor que eles depositassem para realizar aquele sonho, eu  depositaria 10% para contribuir, todo mês. Se juntassem 500, eu acrescentaria 50. E mostrei em quanto tempo elas conseguiriam alcançar o sonho a partir daquelas reservas. Dessa forma, busquei mostrar o quanto essas pessoas são amadas pela empresa”, disse Trindade.
Percebendo ainda o quanto o analfabetismo funcional é uma realidade entre alguns profissionais, Trindade também colocou em prática um programa de desenvolvimento pessoal um pouco diferente. Propôs aos colaboradores que avaliassem juntos a dificuldade de um tema e a empresa se comprometeria em comprar livros para que todos pudessem aprender mais sobre o assunto. Na etapa seguinte, o programa inclui “fatiar” um livro em capítulos para que cada colaborador leia uma parte.  E, de 15 em 15 dias, a empresa realiza um sorteio para que um dos profissionais explique o seu capítulo. Se a pessoa não leu, a reunião tem que ser remarcada e esse compromisso estimula a leitura. Livros, inclusive, são uma forma de gratificação “salarial” na empresa.
“Quando faço essa contribuição para o meu colaborador, sei que estou contribuindo para a comunidade, porque vou impactar a vida dele, da família, dos filhos. E ele entende que existe um valor maior que é ele sendo visto como o centro da empresa e não um meio. Ele faz parte do processo”, completou Trindade.
 

Portanto, como medir os impactos pela redução da pobreza nas empresas EdC ?

De acordo com Maria Helena Faller, presidente da Associação Nacional das Empresas de Economia de Comunhão é possível medir os impactos das ações das empresas EdC  pela redução da pobreza em duas dimensões:

  • Implementação da cultura de comunhão na gestão da empresa. E aqui cabe ressaltar que na EdC não separamos distribuição e produção, ou seja, todo o processo precisa ser fraterno e inclusivo.
  • Destinação de recursos para projetos de redução da pobreza, sejam eles mantidos pela Anpecom ou pelas comunidades locais nas quais as empresas se inserem.

 

“A pobreza é um fenômeno complexo e demarcado por decisões políticas e culturais que a agravam e radicalizam. Nosso trabalho é atuar sobre ela de forma inteligente: queremos e geramos uma nova cultura social, fundamentada na comunhão. As pessoas são comunhão em sua essência, nascem e morrem se relacionando, dando e recebendo. E a economia é o espaço de relação por excelência, da realização do trabalho, da construção da existência. É ali que podemos gerar grandes mudanças. Por isso, propomos e fazemos empresas que tornam essa cultura social, governança e gestão possíveis. Desafiamos paradigmas com ações inovadoras e inteligentes. Temos resultados potencializados e sustentáveis, porque concebidos em equilíbrio. Porém, é preciso ser rápido e realizar justiça social hoje, a partir do que temos e do que podemos fazer.  Quem é atingido pelo fenômeno da pobreza não pode esperar… Precisa se alimentar hoje, viver hoje, empreender hoje. Por isso, investimos fortemente em projetos de educação empreendedora e de redistribuição de renda. O mundo precisa mudar hoje, agora, depende de nós. Nossa ação deve ser complexa e olhar os problemas em 360 graus, minando-os por todos os lados.” Maria Helena Faller, presidente da Associação Nacional das Empresas de Economia de Comunhão.

 
A cultura de comunhão tem tudo a ver com os seus valores e com a sua empresa?
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