Para celebrar seus 29 anos de existência, a Economia de Comunhão (EdC) no Brasil proporcionou a toda a sua rede de colaboradores e interessados um bate-papo virtual com Luigino Bruni, renomado professor e economista italiano e também um precursor da EdC.
Durante cerca de 40 minutos, Bruni compartilhou com quase 300 participantes alguns pensamentos sobre o que podemos aprender com a crise em diferentes contextos.
Otimismo antropológico
“Sairemos dessa crise com um otimismo antropológico porque as pessoas são melhores do que imaginamos”. Bruni destacou o compromisso dos europeus com o lockdown, por exemplo. E aqui certamente podemos nos referir às inúmeras histórias de solidariedade, invenções e reinvenções que resgataram nossa humanidade diante do isolamento.
A humilhação da economia
“A economia teve que aceitar uma humilhação: ela não é o mais importante. Mais importante do que a economia é a vida”. Para Bruni, a economia foi obrigada a se deter, a se retirar por um momento, para que a vida fosse preservada. Evidente que alguns líderes entenderam isso mais do que outros a nível internacional, mas em maior ou menor escala, quase todo o globo viveu a experiência das quarentenas e do isolamento para o cuidado com a vida humana, deixando a economia em um segundo plano.
Isolamento e desigualdades marcam as novas gerações
Bruni também analisou o comportamento das novas gerações perante a realidade da crise da saúde e da economia. De acordo com o economista, nossas crianças e jovens lidaram bem com o isolamento porque mesmo antes do coronavírus elas já estavam isoladas em casa com seus computadores e celulares por horas a fio.
Sabemos que essa perspectiva não se aplica a boa parte da dos nossos jovens pelo fato de que a tecnologia ainda é artigo de luxo para muitos. E lá onde ela faltou, o isolamento foi, inclusive, bem precário. No entanto, o economista também destaca como o impacto da crise na educação das crianças e dos jovens exacerbou a realidade de desigualdade social. Enquanto uns têm acesso a internet, bons computadores e famílias que auxiliam no processo, outros ficam completamente aquém desses benefícios, com sério comprometimento do aprendizado.
“Portanto quando essa pandemia terminar, seremos mais desiguais do que antes”, concluiu Bruni sobre a questão.
A importância dos bens relacionais
“Não podendo sair de casa, agora entendemos o que são os bens relacionais”, disse.
Rogério Cunha, proprietário de uma pizzaria em Manaus, exemplificou bem esse conceito ao compartilhar um depoimento com os participantes da conferência.
“Perdemos 65% do nosso faturamento e veio um grande temor. Qual caminho adotar? E esses bens relacionais foram a base de um ótimo caminho. Partimos para renegociações com os fornecedores e sentimos uma receptividade da parte deles. E depois focamos em ações também com os colaboradores”, contou. E foi a partir desses relacionamentos construídos ao longo do tempo com os diversos públicos envolvidos no negócio que a pizzaria conseguiu se reerguer e absorver as novas demandas da entrega em domicílio. “Teve barmen que virou pizzaiolo para colaborar”, finalizou.
A verdadeira natureza da economia é a comunhão
“Quando estamos em uma situação normal em relação à economia, às empresas e ao mercado pensamos em lucro, salários, incentivos econômicos. E nesses últimos meses percebemos o que realmente é a economia: uma grande rede de reciprocidade”.
Com essa reflexão, Bruni lembrou que por conta da crise, agora a sociedade finalmente enxerga quais são os trabalhos essenciais e que um doente não se cura apenas com médicos, enfermeiros e hospitais, mas também com caminhoneiros, por exemplo. “Nos demos conta que sem essas pessoas teríamos morrido de fome dentro de casa”. E continua. “Se você olha o trabalho (diante dessa crise) você vê pessoas que se servem trabalhando. A crise nos faz ver que a comunhão não é uma superestrutura. Vimos que a comunhão é a verdadeira natureza da economia”.
Mais necessária agora do que antes
Antes de finalizar a conferência e após algumas intervenções dos participantes, Bruni ressaltou a força da rede de EdC.
“É muito evidente que a EdC é muito mais necessária agora do que antes. Serão meses e anos difíceis à nossa frente, mas essa situação nos mostra a força da rede. Existimos há 29 anos e construímos algo que agora é muito importante para nós e para todos”, finalizou.
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