Segundo a teoria econômica, recursos comuns são aqueles bens dos quais todos precisamos, mas dos quais ninguém quer cuidar. Felizmente, a teoria nem sempre acerta e, de fato, muitas vezes vemos exemplos de recursos comuns administrados coletivamente com cuidado e atenção razoáveis. A visão da teoria econômica muitas vezes é negada pelos fatos, mas destaca aspectos importantes da realidade: os recursos comuns são tão necessários quanto frágeis. Isso explica a urgência de entender quais são os elementos que facilitam ou dificultam a sobrevivência de bens como o ar e a água, o sentido cívico e a confiança mútua, os mares e a paisagem em que estamos inseridos.
Sabemos que soluções tradicionais para resolver os problemas dos recursos comuns, como a nacionalização e a privatização, muitas vezes não funcionam. Mesmo quando funcionam, geralmente derivam de processos dolorosos de expropriação da comunidade, para o Estado, num caso e para o privado, no outro. Vimos também que uma terceira possibilidade em relação a essas duas anteriores é uma gestão comunitária, na qual devido à estabilidade das relações de um determinado grupo de pessoas, da publicidade e transparência de todos os comportamentos dos membros do grupo, é possível que o interesse individual que leva à destruição do bem, seja colocado em segundo plano em respeito ao interesse coletivo, que prevê a proteção e a exploração adequada do bem e que se torna uma cultura compartilhada. No entanto, esse modelo de gestão tem limites que se tornam evidentes à medida que a comunidade cresce. Se há uma situação eficiente quando o grupo é formado por dois indivíduos, ao crescer o número de indivíduos envolvidos aumentam também o número de problemas e dificuldades. É compreensível, portanto, que tal perspectiva seja completamente inadequada, por exemplo, para enfrentar as dificuldades relacionadas aos “recursos comuns globais”, que dizem respeito a milhares, quando não milhões de pessoas. Pense no caso do Nilo, cuja as águas banham seis nações diferentes. Se uma delas usar muita água do rio, haverá menos para as outras, o que por sua vez induzirá as outras nações a exceder o consumo de água, determinando assim uma “tragédia” que agora aprendemos a reconhecer. Neste caso, o tamanho do problema torna impossível coordenar as ações de milhões de pessoas que têm não apenas interesses conflitantes, mas também diferentes idiomas, culturas, tradições, costumes e sistemas legais.
Uma solução pode vir de um programa de pesquisa que se realizou nos últimos anos, incluindo economistas, antropólogos e psicólogos. Estudos realizados em praticamente todas as partes do planeta, envolvendo populações de culturas diferentes produziram um certo consenso em torno do fato de que grande parte da cooperação que observamos entre os humanos é baseada no chamado “reciprocidade forte”: eu sou gentil com aqueles que foram gentis comigo e terei a tendência de punir aqueles que se comportaram mal. A reciprocidade forte seria o mecanismo fundamental que apoia o respeito pelas normas sociais, a produção de bens públicos e também a proteção dos recursos comuns. Repreender publicamente quem joga o cigarro na praia ou quem não oferece recibos, tem um efeito motivador para o cumprimento da lei ou da norma social. Por isso, argumentou-se que, para aumentar a cooperação, deveríamos multiplicar as punições para aqueles que são “malandros”. Esta solução é correta e eficaz, mas não sem contra-indicações. Basta pensar no caso de uma pessoa com deficiência física que recentemente após ter feito guincharem um carro estacionado ilegalmente no estacionamento reservado para ela, foi vista perfurando os pneus do proprietário do carro abusivo. Uma infração por vezes gera outra infração e, se as condições permitirem, isso pode virar um conflito entre pessoas, famílias e nações. No caso de recursos comuns, portanto, a punição pode ser eficaz, mas deve ser usada com cautela.